O inexistente sonho americano na F1

  A imprensa dinamarquesa já cravava há dois dias que a Haas demitiria seus dois pilotos e traria para seus lugares Nikita Mazepin - filho do bilionário Dmitry Mazepin, dono da Uralchem/Uralkali que já tentou comprar a Force India no passado e agora provavelmente deve comprar a Haas - e outro piloto da Academia da Ferrari, provavelmente Callum Ilott.

  Depois de surpreendentemente renovar com Grosjean no ano passado, ignorando o passe livre de Hülkenberg, que estava de saída da Renault, a Haas foi altamente criticada por manter um piloto que pouco fazia há anos além de causar acidentes bizarros. Para este ano, já esperava a demissão de Grosjean, como já esperava no ano passado, e de certa forma não surpreende. Porém a saída de Kevin Magnussen sim. Ok, nos últimos dias todos já sabiam que ele também ia rodar, afinal, quando é a imprensa do país do próprio piloto que anuncia em primeira mão, pode ter certeza que é verdade.



Desempregados do mês

  Magnussen é meio esquentadinho, extremamente agressivo (e às vezes sem noção) nas disputas, mas fazia um bom trabalho. Sempre que dava, conseguia pontuar, e, apesar da inconstância, conseguiu entregar resultados condizentes com o que o seu carro lhe permitia. Se fosse para a Haas tirar apenas um de seus pilotos, não seria ele. Acho de certa forma até injusta a demissão, pelo que entregou, mas parece que isso é o que menos importa na Fórmula 1, principalmente quando tem dinheiro envolvido, e na ocasião, dinheiro russo.

  A verdade é que não há mais motivos para a Haas continuar na F1. Gene Haas já conseguiu o que queria, que era popularizar sua marca, a Haas Automation LLC, na Europa. A Haas assinou o Pacto da Concórdia exatamente para ser vendida. É como contratos de jogadores de futebol: sempre tem uma longa duração, não importa a idade, exatamente para o clube poder vendê-lo no futuro, e não perdê-lo de graça ao final do contrato. Na ocasião, se a Haas não assinasse o Pacto da Concórdia para o ano que vem sairia de cena no final desse ano, mas também não ganharia nenhum dinheiro com uma possível venda.

  A série Drive to Survive da Netflix arranhou seriamente a imagem da equipe. Dois pilotos e um chefe de equipe completamente instáveis, toda aquela bizarrice da Rich Energy, mais uma dessas empresas-fantasmas de energéticos que patrocinam eventos esportivos, mas na verdade são fachadas para lavagem de dinheiro. A sensação que se tem é que o interior da equipe é uma zona, e isso, consequentemente, abala a imagem da Haas Automation, logo, uma permanência poderia afetar os negócios de Gene Haas.


Parceria bizarra com a Rich Energy apenas piorou a situação da Haas.

  Quando a FIA anunciou a entrada da Haas F1 Team no grid, em 2014, taxei Gene Haas de louco. Quem, em sã consciência, teria a audácia de entrar na Fórmula 1, depois da desilusão com a famosa ''Invasão de nanicas'' em 2010, quando Lotus, Virgin e HRT entraram na F1 e faliram pouco tempo depois? Pior: quem investiria no início da era híbrida, quando os custos da categoria aumentaram de forma avassaladora e 7 das 11 equipes passavam por sérias dificuldades financeiras? A Haas investiu. E surpreendeu a todos. Um sexto lugar na estreia, outro quinto no Bahrein... Grosjean carregou a equipe nas costas, e calou todos que pensavam que seriam apenas mais um desses aventureiros que entravam na F1, ficavam um ou dois anos capengando no final do grid e saíam fora. Em 2018 foi a grande oportunidade dos americanos, onde mesmo com todas as limitações, brigou com a Renault até o fim pelo título de ''Melhor do Resto'', e só perdeu justamente por causa do excesso de incidentes causados pelo mesmo Grosjean que carregou a equipe nas costas dois anos antes.

  Dizem que o único motivo para a Haas ter mantido o Grosjean por todo esse tempo por ter sido o único que largou sua equipe (no caso a Lotus) e botou fé no projeto. Ok, mas não vamos esquecer também que a Lotus estava falida no final de 2015, a ponto de ter sido barrada na entrada do paddock em Spa por excesso de dívidas, quando ele anunciou sua mudança para a então novata equipe de Kannapolis. E convenhamos, ele até que ficou bastante tempo. Foram nove temporadas e meia e oito pódios. Apesar da péssima fase e de sempre ter causado uns incidentes bizarros, acho sacanagem dizer que ele foi um mau piloto. Chegou até a ser cogitado pela Ferrari alguns anos antes, e há quem diga que a mudança para a Haas foi uma manobra calculada exatamente para ficar mais próximo da Scuderia quando Räikkönen se aposentasse.


Após passagem pífia em 2009, Grosjean recebeu uma rara segunda chance na F1.
E, apesar das inconstâncias, fez mais que muito piloto de pelotão intermediário por ai.

  E quanto ao futuro da equipe? Sinceramente, eu acredito que acabou. Não será apenas Grosjean e Magnussen que vão rodar, a mídia dinamarquesa diz que Guenther Steiner e toda a chefia também vão sair fora, o que indica que Mazepin deve tomar conta de tudo. Talvez a Haas até continue como patrocinadora, e talvez o nome da empresa até continue na equipe, mas a verdade mesmo é que as operações já estão nas mãos de Dmitry Mazepin. E sinceramente, a forma que pilotos pagantes como Stroll, Latifi e agora Mazepin estão entrando nos últimos tempos vem me assustando um pouco.

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