A volta dos que não foram - Liberty não fazia ideia do que estava fazendo com a F1 no Brasil

   Nas últimas semanas vimos Chase Carey entregar o futuro da categoria no Brasil para uma empresa-fantasma sem CNPJ, sem fundos e com uma série de escândalos de corrupção e calotes por trás. Em outras palavras, a Rich Energy brasileira. Todos sabiam que esse negócio seria furada, todos sabiam que JR Pereira é um picareta de primeira e todos sabiam que não haveria autódromo algum no Rio. Todos menos a Liberty.

Empresa em nenhum momento comprovou ter fundos suficientes para construção do autódromo.

  Em primeiro lugar, quero ressaltar que desde quando a Liberty assumiu a Fórmula 1 no início de 2016, sempre aplaudi suas medidas para popularizar a categoria, ainda que muitos fãs tenham reclamado de uma ''americanização'' da categoria. No final da era Ecclestone, a F1 viu sua audiência despencar, foi taxada como ''coisa de velho'' e corridas deprimentes que davam sono. A Liberty investiu em um negócio desacreditado, sem perspectiva de futuro, mandou Bernie para a puta que o pariu e conseguiu reconstruir a imagem até então arranhada da categoria. Mas isso não quer dizer que críticas não devem ser feitas.

  Chase Carey demonstrou ser extremamente ingênuo nos negócios quando tem o Brasil no meio. Começando pelos direitos de transmissão. Por apenas US$ 2 milhões e outras exigências bobas como por exemplo, transmitir todos os treinos livres em TV aberta, algo completamente esdrúxulo para qualquer emissora matar 1h30 de sua programação exibindo carros dando voltas sem haver nada em jogo e também queriam utilizar da sua transmissão para utilizar na F1 TV Pro, serviço pago de streaming da Fórmula 1, onde não preciso nem dizer que pouquíssimos brasileiros vão querer gastar dinheiro nisso, principalmente em um país onde 40% da população adulta tem o nome sujo no SPC. Vale lembrar que na Europa, diversos assinantes estão reclamando da má-qualidade do serviço de streaming da F1, já que o servidor não suporta muitos acessos, resultando em travas constantes e qualidade inferior a 144p. Isso na Europa. Agora imagine no nosso país bonito por natureza que não chegou nem ao 5G ainda.

  Após o fim do acordo com a Globo, o conglomerado americano foi atrás de outras emissoras de TV aberta para transmitir a categoria, porém esqueceram que, se nem a segunda maior emissora do mundo é capaz de pagar o que o conglomerado americano queria, imagine uma Band ou SBT, que estão demitindo funcionários aos montes para conseguir fechar a conta. Acertaram com a Rio Motorsports, mesmo sabendo do calote milionário que a mesma tinha dado na Fox Sports pelos direitos da Moto GP e falou-se em negociações avançadas com a TV Cultura. Uma categoria de nível mundial como a Fórmula 1 precisa de visibilidade, e essa visibilidade ela tinha na Globo, que nada mais é que o maior conglomerado de mídia da América Latina e possui 75% dos televisores ligados no Brasil sintonizados em seu canal. Deixar tudo isso de lado para colocar uma categoria no nível da F1 nas mãos de uma emissora qualquer que não registra nem meio ponto de audiência no IBOPE seria quase como um assassinato a Fórmula 1 no Brasil.


Liberty fechou direitos de transmissão da F1 com a Rio Motorsports mesmo sabendo do calote milionário que a mesma tinha dado na Fox Sports pelos direitos da Moto GP.

  A verdade é que nenhuma emissora quer gastar uma nota para transmitir corridas onde já se sabe quem será o vencedor quando ela pode investir esses mesmos milhões no futebol. E ainda sim pode não dar certo. O SBT, mesmo tendo os direitos da Libertadores, não consegue registrar 1/2 da audiência da Globo no horário dos jogos. Se nem com o futebol as demais emissoras conseguiram alavancar sua audiência, imagine com um esporte de nicho como a Fórmula 1. Não vale a pena. Por esse motivo Bernie Ecclestone - que conhecia muito bem o Brasil - sempre atendia aos pedidos da emissora carioca e aos pedidos dos promotores do GP do Brasil. 


Por mais que a transmissão deixe a desejar há anos, Globo é a responsável pela alta popularidade da Fórmula 1 no Brasil.

  E o autódromo? A Liberty ficou encantada com a possibilidade de realizar um GP no Rio, e resolveu entrar de cabeça no negócio, sob a mesma alegação do GP de Miami de ''levar a F1 para lugares turísticos''. Rio de Janeiro. Lugar turístico. Ok... Vale lembrar que nem a população local demonstrou o mínimo interesse no GP de Miami que a Liberty tanto quer. Mas vamos em frente. Os americanos fecharam o negócio com a Rio Motorsport sem ao menos saber como o grupo iria pagar pelo autódromo, já que até hoje a empresa-fantasma nunca apresentou ao CADE garantias que comprovassem fundos suficientes para tal obra. Isso que eu não estou nem entrando na questão ambiental e o fato da área ser uma zona de preservação, abrigando milhares de espécies únicas da Mata Atlântica, sendo necessário um longo estudo de impacto ambiental que levaria anos para a obra finalmente começar. Todos sabiam que daria errado, mas ainda sim a Liberty (foi a única) acreditou no projeto milagroso de construir um autódromo em um tempo recorde de 9 meses. O desfecho não surpreende ninguém, a não ser os americanos.

  Interlagos pode ter seus problemas crônicos, como o paddock apertado e a falta de segurança, mas é a única pista capaz de sediar um GP no Brasil. Assim como a Globo é a única emissora de TV aberta capaz de transmitir a F1 por aqui. O Brasil é o público mais valioso para a audiência da categoria, logo, somos nós quem devemos fazer as exigências, e não a Liberty. Agora, com um acordo de 5 anos com Interlagos encaminhado e uma possível renegociação com a Globo, torcemos para que tudo volte ao normal. Lembrando que aqui neste blog, a liberdade de expressão é garantida, ou seja, se quiser discordar, me xingar, ameaçar, sequestrar, sinta-se a vontade na caixa de comentários abaixo.

Comentários

  1. Excelente texto. Falou toda a realidade nua e crua. Parabéns pela matéria.

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  2. — O Brasil é o público mais valioso para a audiência da categoria, logo, somos nós quem devemos fazer as exigências, e não a Liberty.—

    Nós tínhamos que poder exigir da maldita Globo transmitir o pódio e sem interrupções!

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    1. Pois é, é realmente péssimo essas interrupções, mas temos que agradecer por não termos intervalos no meio da corrida para comerciais, como acontece na maioria dos outros países que transmitem a F1. Mas de fato, há muito para melhorar com a Globo, mas antes com a Globo do que com a TV Cultura.

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