Divergida com a Globo, Liberty parece disposta a aniquilar a F1 no Brasil

 A Liberty Media já está a procura de outra emissora para seguir transmitindo no Brasil. Flavio Ricco disse que a Band foi procurada para transmitir a F1 no ano que vem, porém vale lembrar que a emissora está atolada em dívidas e por muito pouco não perdeu a Indy esse ano. A Record também é uma opção, ainda mais que a emissora neopentecostal gosta de roubar atrações da Globo. A ESPN/Fox Sports também demonstraram interesse na categoria.

O fim de uma parceria de 40 anos?

  Os donos da F1 tem duas exigências: US$ 22 milhões e ter seu próprio serviço de streaming, a F1 TV Pro. A Globo, que está cortando gastos, falou que mais de 20 milhões não paga, principalmente agora com o fim da exclusividade, com a chegada da F1 TV. Mesmo lucrando quase R$ 500 milhões em patrocínio e sendo sempre líder de audiência nas manhãs de domingo de corrida, a Globo já avisou que não pagará mais que isso. Mas os americanos não estão satisfeitos.

 Eu já estou preparado para o xingamento que irei receber após esse texto, porque irei falar da Globo. Sim, aquela que você chama de comunista, golpista, alienadora, essas coisas. Como todo mundo ama xingar a Globo, decidi escrever sobre o futuro da F1 no Brasil. Vou deixar claro que não sou nenhum ''globalóide'', como diria os retardados dos terraplanistas.

   A Liberty Media parece não fazer ideia do que está fazendo. Uma coisa que Bernie Ecclestone entendia bem é que a F1 é mais dependente da Globo do que vice-versa. Um dos motivos para o Brasil ser hoje a maior audiência da F1 se deve a emissora carioca, que sempre foi o maior conglomerado de mídia/telecomunicações da América Latina. Não a toa, Tio Bernie sempre acatava os desejos da emissora. Se você ainda não entendeu, eu te explico.

Senna dificilmente seria eternizado
se tivesse morrido na era da internet.

  Sabe porquê de Senna ter se tornado esse ídolo nacional? Por causa da Globo. Foi ela quem o popularizou, em uma época em que a internet apenas engatinhava e a TV era o único meio de comunicação acessível, fazendo com que todos acompanhassem Senna. Hoje, mesmo não sendo mais hegemônica como nas últimas duas décadas, ainda há famílias que (pasmem) tem tradição de se reunir para assistir TV. E esse é o motivo para a Globo ainda ser disparada, a 2ª maior rede de televisão comercial do mundo e consequentemente, ser a vitrine ideal para a F1 no Brasil.
 
  ''Ah mas a Globo tirou os pódios da transmissão, parou de exibir a qualificação, não fazem mais transmissões in loco, ela não trata a F1 como deveria'', deve estar reclamando algum fã qualquer. Os pódios foram retirados unicamente porque a mudança no horário feito pela Liberty (de 9h para 10h10) passou a prejudicar completamente a grade da emissora. E no Globoesporte.com você pode ver o pódio, imagens ao vivo antes do início da transmissão na TV e as entrevistas pós-corrida. Tudo isso de graça (diferente da F1 TV).

  A Globo é uma das poucas emissoras que ainda fazem cobertura completa em todos os GPs. Uma das poucas que não interrompem a corrida para exibição de comerciais. Além disso, é uma das poucas que passam matérias sobre a categoria em pleno horário nobre, durante o Jornal Nacional. Realmente, a transmissão piorou, mas isso é uma tendência mundial. Agora, já pensou ter a corrida interrompida no meio de uma disputa para exibição de comerciais? Pois é, isso é comum em quase todas as emissoras que transmitem a F1.

  ''Ah, mas e a F1 TV?'', deve estar perguntando outro fã. Esquece. Não irá pegar no Brasil. Óbvio que os fãs mais apaixonados irão adquirir o serviço, mas apenas eles. Nem todos que assistem a F1 hoje são fãs, muitos são pessoas que apenas acompanham vez ou outra a categoria ou tradicionalistas que ainda assistem TV. Sem contar que aqui não é a Europa, nem todos tem ou vão querer gastar dinheiro apenas para assistir a F1. E como eu disse acima, já tem tudo disponível no Globoesporte.com e de graça. Se você está disposto a pagar pela F1 TV unicamente pelas ''câmeras exclusivas'', o dinheiro é seu.

Streaming é o futuro, porém TV aberta ainda é um importante mercado para a F1.

  Sei que provavelmente 70% dos leitores já pararam de ler ou estão me xingando até a alma. Calma, vou dar uma opinião ainda mais controversa: se a Globo não quer a F1 TV Pro no Brasil, é melhor que assim seja. Se a F1 sair da TV aberta no Brasil, se restringindo a apenas canais pagos ou serviços de streaming, pode ter certeza, o público que assiste a categoria por aqui, cerca de 115 milhões (!) irá cair para pelo menos 10 milhões, sendo extremamente otimista.

   Vamos comparar aos outros casos no mundo: na Espanha aconteceu algo parecido, não entrou em acordo com as emissoras de TV aberta e migrou para a TV fechada. A audiência caiu em 99%, mesmo com Alonso no grid. Na Itália foi o mesmo. Na Alemanha, idem. Nem mesmo a  pátria-mãe da F1, a Inglaterra, escapou e partiu para a TV a cabo.

  No Brasil, a TV por assinatura tem cerca de 15 milhões de assinantes e de 2018 para 2019 perdeu incríveis 1 milhão de assinantes. Está com os dias contados. E o serviço streaming, como eu disse, ficará restrito entre os fãs mais apaixonados da categoria. Só. E mesmo se for para qualquer outra emissora de TV aberta, como Band ou Record, os números não chegarão nem perto aos que a F1 tem com a Globo.

  E não é só a F1 que depende da Globo. Sabe porquê a Stock Car ainda respira? Porque é a Globo que a mantém viva. A partir do momento que deixar de ser transmitida, ninguém vai querer investir no negócio, os patrocinadores vão minguar, as montadoras vão tudo cair fora. Ninguém vai investir em algo que não trará nenhuma visibilidade. E será o fim da principal categoria nacional.

Veja a quantidade de patrocinadores. Agora pense quanto deles continuariam se a Globo deixasse de transmitir a Stock Car.

  Até mesmo Bernie Ecclestone - que sempre colocava o dinheiro em primeiro lugar e foi um dos responsáveis por essa migração a TV fechada - abria mão da grana para manter a F1 na Globo. Porém a Liberty se mostra disposta a perder a emissora que traz a maior visibilidade para a F1 no mundo unicamente porque quer 2 milhões a mais. Será que era só o Bernie que colocava o dinheiro em 1° lugar?

  Fui apenas realista. Se você ainda sim acha que a F1 tinha que sair mesmo da Globo porque ela não transmite mais o pódio, porque você não gosta do Galvão ou por qualquer outro motivo, repense. As consequências poderiam levar não só a perda do maior mercado que a categoria tem atualmente, como também ao fim da paixão nacional pelo automobilismo. E quem perderá com isso será nós, fãs de esporte a motor.

  Como eu sempre digo, a caixa de comentários está disponível abaixo para discordar ou me xingar, se for necessário.