Hulkenberg não será caso único na F1

   A trajetória de Hülkenberg na Racing Point acabou nesse domingo. Fez um ótimo trabalho para quem sequer havia testado o carro. Uns falam que no ano que vem, ele pode ser contratado pela Aston Martin, que parece estar interessada em um piloto alemão, onde é seu segundo maior mercado. Pode ser Vettel, se não, pode ser Hülkenberg. Ou talvez seja Pérez mesmo. Mas não é disso que irei falar nesse post. Irei comparar a história de Hulkenberg com a de outros pilotos que são tidas como futuras promessas na F1.

The unlucky Nico Hulkenberg - EssentiallySports

  Esse blog é conhecido por sempre dar opiniões polêmicas e totalmente impopulares. E dessa vez não será diferente, vou falar algo que sempre achei mas nunca tive coragem de falar. Hülkenberg sempre foi melhor que Pérez. Pronto, falei. Ainda não fechou a página? Que bom, agora vou fazer uma breve introdução na carreira de Hulk para chegar aonde eu quero chegar.

  Só o fato de conseguir fazer mais de 200 GPs mesmo sem nunca ter tido grandes patrocinadores ou filho de aristocrata já é um grande feito. Campeão de tudo nas categorias de base, chegou na F1 em 2010 ao lado de Rubens Barrichello na Williams. Com o fraco motor Cosworth, Hulk não fez feio, mas foi dominado por Rubinho, muito mais porque o brasileiro estava em um ritmo fora do comum, em uma das melhores temporadas de sua carreira. Mas pelo menos conseguiu uma pole.

  Como nem tudo é flores, a Williams perdeu uma porrada de patrocinadores em 2010 e precisava de dinheiro, e como esse não era o forte de Hulk, foi dispensado. Como a pole só veio na penúltima etapa do campeonato, quase todas as vagas estavam definidas, e o alemão ficou sem vaga para 2011. Tirou um ano como piloto de testes da Force India para ser titular em 2012. Não foi tão brilhante como Pérez, mas muito mais consistente. Quase venceu debaixo de chuva em Interlagos, porém a inexperiência falou mais alto ao fazer uma manobra em cima de Hamilton. Novamente, quando Hulk finalmente brilhou já era tarde demais e as vagas nas equipes grandes para 2013 já estavam definidas, então fez uma inexplicável mudança para a Sauber. Os suíços tiveram um bom desempenho com Pérez e Kobayashi em 2012, mas estavam sofrendo com a falta de grana e sem nenhuma perspectiva de futuro. Não que Force India fosse o melhor exemplo de estabilidade financeira, mas os indianos vinham evoluindo ano após ano e Mallya ainda tinha dinheiro naquela época.

Hulkenberg not bitter about no F1 podiums but Brazil 2012 still hurts
Aquele momento que parte o coração de todos.

  A única explicação plausível era se aproximar da Ferrari, parceira de longa data da Sauber. Como todos sabiam que Massa não renovaria para 2014, a intenção era ser percebido pelos italianos. E foi. Depois de carregar a Sauber nas costas, assinou um pré-contrato com a Ferrari, mas foi trocado por Kimi no fim, e Hulkenberg - que tinha admitido publicamente ter se arrependido de trocar a Force India pela Sauber - voltou para sua antiga casa. Ficou lá por três anos e foi contratado para liderar o projeto da Renault na F1. O que aconteceu depois todos sabem.

  Como eu disse acima, sempre achei Hulkenberg melhor que Pérez. Mas porque Pérez tem 8 pódios e Hulk nenhum? Simples. Sempre que aparece alguma chance de pódio, Checo agarra bem e não solta. É impressionantemente oportunista (no bom sentido). Ainda sim, Hulkenberg é o melhor exemplo da disparidade de forças na F1. Um piloto com o seu currículo nunca ter conseguido um pódio é inaceitável. Ok, ele desperdiçou inúmeras chances, mas chegar no pódio nunca foi uma obrigação para ele, com os carros que teve na mão. De todos os companheiros que teve, apenas Pérez conseguiu chegar ao pódio com o mesmo equipamento que o seu. Nem Ricciardo, nem Sainz, nem di Resta e nem Barrichello conseguiram. Se ele tivesse tido uma chance na Ferrari, McLaren ou Red Bull ai sim seria incompetente. Não foi o caso.

Ficheiro:Hülkenberg Renault F1 Monza 2017.jpg – Wikipédia, a ...
Hulkenberg era primeira opção na Mercedes após a aposentadoria de Rosberg. Mas o alemão já estava acertado com a Renault

   Mas ok, eu enrolei, enrolei, contei a história toda do cara pra chegar em que conclusão? Ora, repare na quantidade de jovens talentos que temos no grid hoje. Temos Ocon, Russell, Albon, Gasly, Norris, Latifi. Todos com um talento inquestionável, e desses, apenas dois tem pódio. Quando Sainz finalmente conquistou seu primeiro pódio na F1 já estava no top-5 de pilotos com mais corridas sem pódio, ao lado de Martini, Liuzzi, Ericsson, Sutil e o já citado Hulk. Com apenas 25 anos. Agora pense no Ocon. Imagine ele se aposentando sem nunca ter conquistado um pódio? Isso não seria nenhuma surpresa. Apesar de estar fazendo uma temporada deplorável, se a Renault também não lhe der um carro capaz, é bem provável que isso ocorra. Por que? Porque todo piloto que não pilota pela Mercedes ou Red Bull (ou Ferrari, quando não faz carro ruim) depende de situações adversas para chegar ao pódio.

  Em 2008, das 10 equipes, 9 conseguiram chegar ao pódio. Em 2012, das 12, 7 subiram pelo menos um degrau. Em comparação, em 2017-2018, apenas quatro equipes diferentes por temporada chegaram ao pódio, e só não foi esse mesmo número em 2019 por causa da punição de Hamilton em Interlagos. Nesse ano, já tivemos McLaren e tem carros como a Renault e Racing Point capazes de chegar lá, mas ainda sim, a ordem de forças segue bem definida. Além disso, desde o GP da Austrália de 2013 não sabemos o que é ver outra equipe além de Red Bull, Ferrari e Mercedes ganhar uma corrida.

  Para um piloto talentoso que nunca teve chance em uma equipe grande e não consegue ter a mesma sorte de Pérez, isso é péssimo, já que é muito difícil chegar ao pódio e impossível brigar por alguma vitória. E se a disparidade de forças não mudar com o regulamento de 2022, preparem-se, haverá muito mais Hulkenbergs na F1.

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