O lado a mais (e pouco explorado) na ida de Vettel à Aston Martin

  Na semana anterior, a Aston Martin finalmente anunciou Sebastian Vettel. Pérez, que sempre se manteve fiel à escuderia desde quando ainda era Force India ficou a pé. É uma pena, Checo é um ótimo piloto (apesar de um tanto superestimado por alguns que falam que poderia ser campeão mundial se tivesse carro) mas assim é a Fórmula 1, um lugar cruel.

Aston Martin seria a grande chance de Pérez. Fica pra próxima...

  A chegada de Vettel é ótima para todos. Para a imagem da Aston Martin, para Lance Stroll - que pode se aproveitar da má-fase do alemão para valorizar seu passe - e para ele próprio, que vem em uma espiral negativa desde o GP da Alemanha de 2018, e agora, em novos ares, é a chance de reconstruir sua carreira, renovar a motivação e encerrar sua trajetória na F1 de forma digna.

  Todos sabem que, assim como Alonso na Renault-futura-Alpine, Sebastian não vem com o objetivo de conquistar o pentacampeonato, como era o planejado em sua ida para a Ferrari em 2015, e sim para mostrar à mídia italiana, Ferrari e aos que falam que já passou sua hora que ainda tem gás. E de fato tem. Ao fundo do poço ele já chegou, e se seguisse na Scuderia, continuaria lá. Ainda tem uma galera que diz ''É melhor se aposentar logo do que ficar se humilhando na F1''. E eu discordo com todas as minhas forças de quem fala isso. Eu explico.

  Não sou corinthiano, mas quem for vai se lembrar bem da contratação de Ronaldo em 2008. Tanto o Corinthians, quanto o Fenômeno estavam no fundo do poço um ano antes. Rebaixado em 2007, o Timão voltava a Série A e buscava uma reestruturação, enquanto o Fenômeno estava completamente fora de forma. Dispensado pelo Milan após uma passagem pífia, onde sofreu com inúmeras lesões, Ronaldo estava há um ano parado, gordo, com problemas no joelho e tinha acabado de descobrir que tinha hipotiroidismo, razão pela sua facilidade em ganhar peso. Além disso, não aguentava mais jogar por 90 minutos. Mas ainda sim o Corinthians resolveu investir nele. Por que? Marketing. Os ganhos fora de campo foram enormes, o valor de patrocínio do time chegou a R$ 30 milhões, se tornando no maior valor do Brasil, gerou um aumento milionário na venda de ingressos e camisas, além de ter renovado a imagem desgastada do clube recém-saído da Série B. Mesmo já aposentado em 2012, Ronaldo foi peça fundamental na arrancada do Timão de rebaixado a campeão mundial quatro anos depois. E o Corinthians foi peça fundamental para que Ronaldo - também no fundo do poço em 2008 - pudesse mostrar aos críticos que ainda tinha algo a mostrar e pôde se aposentar de maneira digna.


Gordo e desacreditado na Europa, Ronaldo conseguiu reconstruir sua carreira que era dada como acabada, virou ídolo corinthiano e se despediu de forma digna. 

  Agora deixando o futebol de lado e voltando a F1, a Aston Martin tem com Vettel o mesmo exemplo. Assim como Ronaldo em 2008, Vettel está numa fase terrível, mas ainda é um tetracampeão. Como Wolff já disse, a Alemanha é o segundo maior mercado da Aston Martin, e para o marketing da equipe isso seria excelente.  Pérez e Stroll não são ruins, mas não são pilotos para representar uma marca como a Aston Martin na F1. Como dizia o Rei do Camarote ''É igual você comprar um Boeing e colocar um piloto de teco-teco no comando''. Além disso a Racing Point tenta se afastar o máximo de sua identidade de ''equipe do filhinho do bilionário'', colando sua imagem na de suas antecessoras, como Force India e Jordan, como se fosse a mesma equipe (o que pode ser visto no Instagram da equipe). 

  É claro que a demissão de Pérez - que foi quem mais botou fé no projeto da Aston Martin, desde a chegada de Lawrence Stroll a chefia - é extremamente injusta, mas também seria injusto deixar um tetracampeão dando sopa por ai. Outros pilotos no mesmo nível do mexicano, como Hülkenberg, Heidfeld, Trulli e Ralf Schumacher também passaram por isso. Teve sua chance na McLaren em 2013 e não foi mal, mas empinou o nariz e foi tão insuportável que nem Ron Dennis, nem os mecânicos, nem seus próprios engenheiros, nem o gentleman Jenson Button e nem os outros pilotos lhe aguentavam mais, com Räikkönen chegando a dizer que ''Alguém deveria dar um soco nele''. Acabou dispensado e nenhuma das poderosas Mercedes, McLaren e Ferrari que em 2012 disputavam no tapa pelo mexicano lhe queriam mais por perto. A única que botou fé no latino foi a Force India, e Checo agradeceu a confiança da equipe nele sendo extremamente comprometido com a equipe, mesmo passando por períodos duros, recusou várias propostas de outras equipes, como Renault, Lotus, Haas, salvou a equipe e seus funcionários da falência em 2018, assinou um contrato de longo prazo com a recém-adquirida Racing Point - algo que já é extremamente incomum de vermos na F1 e ainda mais raro em uma equipe intermediária - mas, e dai? Como eu disse, a F1 é um mundo cruel mesmo. Vettel também largou sua posição consolidada na Red Bull para realizar seu sonho de correr na Ferrari - que estava numa situação pior que a da equipe taurina em 2014 - e foi demitido de forma humilhante (não me venha com o papo que ele saiu da RBR por causa do Ricciardo, desde 2011, quando ele já ganhava tudo na RBR havia boatos sobre uma suposta ida do tetracampeão à Scuderia em 2014). Hülkenberg também largou tudo para liderar o projeto da Renault e foi completamente abandonado em prol de Ricciardo e Ocon. E isso sempre ocorrerá no universo da F1.

  Acredito que há três opções consideradas. A Formula E, a Alfa Romeo e a Haas. Acredito que esta última seria a opção mais interessante, já que os americanos têm um problema crônico com pneus, coisa que Checo entende bem e poderia ajudar a equipe no desenvolvimento. A Indy ele já descartou faz um tempo e a Alfa Romeo já estava em conversas com Nico Hülkenberg, mas também é uma opção, ainda mais que não se sabe se a Sauber seguirá com a parceria com a Alfa Romeo no ano que vem e pode perder boa parte de seu orçamento, que poderia ser complementado com a grana de Checo. Se nenhuma delas der certo, paciência. Há vida fora da Fórmula 1, como já mostraram diversos pilotos que ficaram sem espaço na F1 como Nakajima, Di Resta, Nasr, Wehrlein, Kobayashi, Kovalainen. Todos se reconstruiram em outras categorias sem entrar em depressão ou alcoolismo. Nenhuma delas tem o mesmo luxo, o mesmo glamour e a mesma grana da Fórmula 1, mas quem é apaixonado em domar máquinas a 300 por hora está pouco se lixando pra isso. 

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